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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Onde os fracos não têm vez

Nos cantões de todas as favelas do Brasil a palavra Estado é sinônimo de ausência. E diante da ausência do titular do poder/dever de prestação de serviços públicos e aplicação da lei, os traficantes assumem a função de um Estado paralelo, impõem suas regras, valores, um sistema de recompensa por fidelidade e, em alguns casos, até mesmo uma “segurança instável”, uma pseudo-segurança contra grupos rivais.

Os moradores temem, mas não se rebelam ante o novo sistema. Pois, na verdade, não há em quem se apoiar para enfrentá-lo com garantia de manter-se vivo. Aliado a isso, a evolução das deficiências sociais gera o que hoje tem sido chamado de milícia: formadas por policiais, ex-policias, militares, ex-militares, agentes penitenciários, etc., esta nova forma de poder paralelo se impõe diante dos traficantes, expulsam-nos de seus postos de comando, e, assim como os seus predecessores, reestruturam novamente os valores das favelas, criam suas leis, suas próprias taxas e, em contraprestação, se comprometem a manter na comunidade uma “aparente” segurança; não bastasse isso, posam como mocinhos-justiceiros.

E os cidadãos? Outra vez temem... e tremem!

A história não acaba aí, o Estado, “legítimo titular do poder”, descobre a ação das milícias, enciúma-se pela ciência de que “outro” está exercendo “seu papel” (diga-se de passagem, tão porcamente quanto ele), e dirigi-se fortemente equipado para uma operação de resgate do território ocupado.

Obtendo eficácia na grande maioria das ações, desbanca o sistema paralelo instituído pelos transgressores, dá as caras a um povo que já quase havia esquecido que ele existia, e prega a libertação da opressão imposta pelo então grupo transgressor. Não obstante a isso, logo que se encerra a operação, ele se ausenta outra vez. Como marido bígamo que não dá satisfatória assistência à sua legítima família, abandona a comunidade agora livre das milícias, deixando novamente um vácuo, uma lacuna socio-estrutural.

É assim que tudo recomeça, um grande círculo vicioso mantém-se vivo, e os traficantes, outrora expulsos dali, retomam seu poder outra vez...e já iniciam seu “trabalho” punindo aqueles que, de alguma forma, acolheram ou apoiaram os milicianos.

Essa tem sido a história das comunidades periféricas, pobres e desassistidas pelos governantes. Passando de mão em mão, tornando-se ora posse de um, ora posse de outro, um verdadeiro campo de batalhas numa terra de ninguém!

Os cidadãos das favelas, os fracos dessa história, eles não têm vez...

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