Visita à cadeia... (O depois)
Pois é meus amigos, a realidade é dura. Dura demais, ao ponto de não parecer realidade.
Mas vamos começar do começo, ok? Na chegada, a expectativa era geral. Os colegas procurando sempre um mais chegado para ficar junto, formando os grupinhos de costume. O grupo sempre gera segurança ao indivíduo... As piadinhas talvez servissem para disfarçar a nossa ansiedade.
Depois que os primeiros grupos de alunos foram entrando e saindo, os primeiros comentários começaram a surgir. Parecia uma fila de cinema, em que aqueles que já haviam assistido ao filme contavam o final aos outros!
Finalmente, no último grupo, entrei. Já nos primeiros passos, a apreensão começa a desaparecer. Confesso que me senti um pouco invasor, um pouco intruso, tanto que não gostei da idéia de “enfiar a cara” nas celas de qualquer jeito. Afinal de contas, não gostaria que alguém fizesse isso no meu quarto sem a minha autorização. Mas com o passar do tempo, percebi que os presos não nos viam como intrusos. Viam aqueles alunos do 5º ano como possibilidades, como uma pontinha de esperança, como pessoas que podiam trazer algo de bom pra eles.
Achei as celas até certo ponto bem organizadas, claro que da forma deles, dá forma que dá pra ser feita. Com certeza há uma organização lá dentro que talvez quem está de fora não compreenda. Mas de qualquer forma é um ambiente muito pesado e insalubre.
A cela dos menores e as celas das mulheres talvez sejam as que mais chamaram nossa atenção. A dos menores por realmente abrigar crianças, meninos que em outras famílias, lugares ou condições talvez nem soubessem ir à padaria comprar 5 pães e um litro de leite. Mas os que ali estavam sabiam muito, talvez mais do que nós estudantes. Seus olhares tinham uma carga estranha.
Já na cela feminina, encontramos uma figura que talvez nos desperte uma maior atenção, tanto aqui fora, nas filas de banco e nos ônibus, mas muito mais ali dentro, naquelas condições precárias: uma mulher grávida. Seis meses, se não me engano. A pergunta é imediata: - E aí? Como está a criança? Como é feito o acompanhamento, o pré-natal? E quando nascer? Incertezas, somente incertezas...
Como eu moro em um bairro periférico aqui de Pouso Alegre, já esperava encontrar algum conhecido lá. E encontrei. Não que fosse um amigo íntimo, alguém que compartilhasse uma amizade forte, mas era um conhecido. Colega de futebol na quadra do bairro. E confesso que me senti feliz quando ele me reconheceu, me chamou pelo nome e estendeu sua mão. Uma sensação estranha. Por que ele estava ali dentro e eu aqui fora. Poderia muito bem ser o contrário. E aí? Como seria?
Quem naqueles momentos ali dentro não se imaginou um condenado, um esquecido, alguém que por um erro isolado ou uma série deles se viu atrás das grades? E aí? Como seria? Quem não imaginou a própria mãe, esperando naquela mesma porta que nós esperamos, no dia de visita? Como seria o sofrimento dela?
É claro que outras pessoas passam por situações difíceis. Crianças carentes, idosos abandonados, doentes em filas de hospitais. Todas essas pessoas merecem a atenção e o auxílio que a nossa Constituição determina. E porque não o têm? Porque?
Só pra finalizar, até porque acho que me excedi nas palavras e poucas pessoas hão de se aventurar até o fim desta postagem, gostaria de salientar o respeito recíproco que os encarcerados têm com o Prof. Valdomiro. Acredito que a presença dele é que nos trazia a sensação de segurança naquele ambiente hostil, muito mais do que os detetives e carcereiros com suas armas de fogo. Mais uma vez o Tio Valdô mostrou seu caráter, fazendo na prática o que diz em suas aulas.
Obrigado a todos que chegaram até aqui nesta leitura, me desculpem algum erro ou equívoco e convido a todos a registrar aqui também suas impressões. Se preferirem, podem mandar um e-mail para messias@fdsm.edu.br que terei o maior prazer em transcrever aqui o seu texto.
E que venham Itaúna e BH!
Abraço a todos.
Messias Camargo.
Depois que os primeiros grupos de alunos foram entrando e saindo, os primeiros comentários começaram a surgir. Parecia uma fila de cinema, em que aqueles que já haviam assistido ao filme contavam o final aos outros!
Finalmente, no último grupo, entrei. Já nos primeiros passos, a apreensão começa a desaparecer. Confesso que me senti um pouco invasor, um pouco intruso, tanto que não gostei da idéia de “enfiar a cara” nas celas de qualquer jeito. Afinal de contas, não gostaria que alguém fizesse isso no meu quarto sem a minha autorização. Mas com o passar do tempo, percebi que os presos não nos viam como intrusos. Viam aqueles alunos do 5º ano como possibilidades, como uma pontinha de esperança, como pessoas que podiam trazer algo de bom pra eles.
Achei as celas até certo ponto bem organizadas, claro que da forma deles, dá forma que dá pra ser feita. Com certeza há uma organização lá dentro que talvez quem está de fora não compreenda. Mas de qualquer forma é um ambiente muito pesado e insalubre.
A cela dos menores e as celas das mulheres talvez sejam as que mais chamaram nossa atenção. A dos menores por realmente abrigar crianças, meninos que em outras famílias, lugares ou condições talvez nem soubessem ir à padaria comprar 5 pães e um litro de leite. Mas os que ali estavam sabiam muito, talvez mais do que nós estudantes. Seus olhares tinham uma carga estranha.
Já na cela feminina, encontramos uma figura que talvez nos desperte uma maior atenção, tanto aqui fora, nas filas de banco e nos ônibus, mas muito mais ali dentro, naquelas condições precárias: uma mulher grávida. Seis meses, se não me engano. A pergunta é imediata: - E aí? Como está a criança? Como é feito o acompanhamento, o pré-natal? E quando nascer? Incertezas, somente incertezas...
Como eu moro em um bairro periférico aqui de Pouso Alegre, já esperava encontrar algum conhecido lá. E encontrei. Não que fosse um amigo íntimo, alguém que compartilhasse uma amizade forte, mas era um conhecido. Colega de futebol na quadra do bairro. E confesso que me senti feliz quando ele me reconheceu, me chamou pelo nome e estendeu sua mão. Uma sensação estranha. Por que ele estava ali dentro e eu aqui fora. Poderia muito bem ser o contrário. E aí? Como seria?
Quem naqueles momentos ali dentro não se imaginou um condenado, um esquecido, alguém que por um erro isolado ou uma série deles se viu atrás das grades? E aí? Como seria? Quem não imaginou a própria mãe, esperando naquela mesma porta que nós esperamos, no dia de visita? Como seria o sofrimento dela?
É claro que outras pessoas passam por situações difíceis. Crianças carentes, idosos abandonados, doentes em filas de hospitais. Todas essas pessoas merecem a atenção e o auxílio que a nossa Constituição determina. E porque não o têm? Porque?
Só pra finalizar, até porque acho que me excedi nas palavras e poucas pessoas hão de se aventurar até o fim desta postagem, gostaria de salientar o respeito recíproco que os encarcerados têm com o Prof. Valdomiro. Acredito que a presença dele é que nos trazia a sensação de segurança naquele ambiente hostil, muito mais do que os detetives e carcereiros com suas armas de fogo. Mais uma vez o Tio Valdô mostrou seu caráter, fazendo na prática o que diz em suas aulas.
Obrigado a todos que chegaram até aqui nesta leitura, me desculpem algum erro ou equívoco e convido a todos a registrar aqui também suas impressões. Se preferirem, podem mandar um e-mail para messias@fdsm.edu.br que terei o maior prazer em transcrever aqui o seu texto.
E que venham Itaúna e BH!
Abraço a todos.
Messias Camargo.
3 comentários:
Infelizmente não pude ir à cadeia hj como muitos dos colegas foram.
Mas acredito que a impressão e observações feitas pelo colega são mto bem colocadas, é um mundo mto diferente aquele dos encarcerados.
Um abraço aos colegas!
Primeiramente Messias quero parabenizá-lo pelo blog que, sem dúvida, é um ótimo instrumento de comunicação, sobretudo para nós do 5º A. Quero parabenizá-lo também pela postagem que você fez sobre a visita à cadeia. Não pude ir por causa do meu trabalho, mas lendo seu artigo já deu para ter a noção de como é a realidade lá dentro... lastimável, por sinal. Sei que isso não se compara à experiência vivida por vocês que viram de perto tudo isso. Meu único desejo é que, como disse nosso colega Decarle, que todos nós, operadores do direito façamos a diferença e não fechemos os olhos a esta realidade... que não pensemos apenas em nossos interesses e realizações pessoais, mas que lutemos para ver os direitos fundamentais garantidos a todos, sem distinção.
Obrigado pelas palavras Cristiane, a idéia do Blog é ser um canal democrático de troca de idéias entre nós, portanto fique a vontade para participar, não só com comentários, mas tb com idéias de postagens e tudo mais que envolver o nosso dia-a-dia.
Grande abraço...
Messias Camargo
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