Crônica...
O "Estado de S. Paulo" publicou hoje esta crônica do Luiz Fernando Verissimo. Talvez ele não conheça muito a realidade do sistema prisional, mas não deixa de ter o humor crítico que lhe é característicos.
Efeito salutar
Verissimo
Não se sabe se a elite vai para a cadeia nos países desenvolvidos porque as cadeias são melhores ou se as cadeias são melhores porque a elite as freqüenta. Mas um dos efeitos desse novo ímpeto da Polícia Federal de prender suspeito de corrupção não importa o título ou o saldo bancário pode ser uma melhoria, finalmente, do vergonhoso sistema carcerário brasileiro. Haveria um sensível aprimoramento de instalações e serviços nas nossas prisões com a qualificação da sua população. É só o ímpeto continuar.
Não seria nem demais pensar que no futuro houvesse um sistema de cotações - cinco estrelas para prisões com celas executivas, por exemplo - e a possibilidade de o condenado escolher sua penitenciária na hora da sentença, o que asseguraria o funcionamento do sistema em bases empresariais. As empresas teriam interesse dobrado em investir em boas penitenciárias, as empreiteiras em construí-las e as financeiras em financiá-las, para garantir sua participação num novo e lucrativo mercado e porque a qualquer hora um dos seus dirigentes poderia estar ocupando uma cobertura.
O novo e saudável hábito pode ter desdobramentos inesperados. O inevitável progresso dos serviços penitenciários serviria como incentivo para confissões voluntárias. Acabariam as lutas jurídicas, a indústria de liminares e a proliferação de 'habeas-corpus', desafogando o nosso sistema judiciário, já que muitos acusados prefeririam reconhecer sua culpa e ir logo para a cadeia, escolhendo a que tivesse sauna, clube de lazer ou ginásio e vista, ou de acordo com a programação da TV a cabo.
Conhecendo-se o mercado de imóveis no Brasil, é claro que haveria o risco de as construções de luxo excluírem as construções de prisões populares e dos criminosos comuns ficarem sem cadeia, o que aumentaria a insegurança nas ruas. Mas dentro dos muros de penitenciárias modernas e confortáveis, a elite brasileira viveria o seu sonho de segurança total: guardas 24 horas por dia e o convívio exclusivo dos seus pares.
Fonte: O Estado de S. Paulo de 19 de Abril de 2.007.










Um comentário:
satírico e interessante ao mesmo tempo...
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